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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff

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Início de ano complicado
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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O ano está iniciando, e continuamos em uma situação bastante complicada relacionada à pandemia, que tem infectado inúmeras pessoas e sobrecarregado o sistema de saúde do RS. É assombrosa a quantidade de informações divergentes disputando espaço de legitimidade, proposições falsas e estatísticas mentirosas sendo usadas como argumento. O que levanta uma questão importante: como se informar em um universo que circula tanta mentira colocada em patamar de igualdade com argumentos sérios?

REGIMES DE VERDADE

Saber sobre um conhecimento está cada vez mais difícil. Outrora, escutar profissionais ligados à área de atuação, no caso da pandemia, os diferentes profissionais da saúde, que nos davam uma certa garantia que aquele conhecimento era verdadeiro. Hoje, infelizmente, circulam informações falsas sobre o COVID, baseadas em dados falsos e teorias da conspiração, que em nada ajudam. Recentemente, dois médicos negacionistas da COVID, que fizeram vídeos e postagens minimizando a doença, morreram ironicamente por complicações causadas pelo vírus.

Isto levanta a questão, o que pode levar uma pessoa formada em uma área a negar o conhecimento científico que sustenta sua área de atuação? Esta pergunta não é simples, e uma resposta linear certamente não dará conta de sua complexidade, mas um elemento certamente pode ser trazido à tona.

FORMAÇÃO SEM REFLEXÃO

Nos anos de 1949 e 1966, o físico Richard Feynman lecionou no Brasil, ajudando a construir a comunidade do campo da física por estas terras. Ao lecionar na pós-graduação, ficou impressionado com a quantidade de informações que um aluno possuía no Brasil, pois qualquer pergunta feita sobre estruturas atômicas e propriedades físicas eram rapidamente respondidas. Entretanto, quando questionava os discentes sobre a utilização daquele conhecimento, nenhuma resposta era dada. Em sua análise sobre a formação brasileira, o pesquisador concluiu que nossa educação era excessivamente voltada para concursos e muito pouco reflexiva, ou seja, sacrificava-se a reflexão em nome do volume de informações que um aluno deveria ter.

Embora existam mudanças nesta perspectiva educacional, muitas pessoas são e foram formadas nesta lógica. Isto produz indivíduos com grande quantidade de conteúdo acumulado, mas por não ter desenvolvido ferramentas reflexivas, não consegue separar um argumento sólido de informações errôneas. A consequência reflete na difusão de informações falsas que adquirem legitimidade vinda de profissionais tecnicamente qualificados.

O Hino e o sonho da esquerda
Rogério Koff
Professor universitário

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Um vereador porto-alegrense recém-eleito pelo PSOL conseguiu desencadear a maior palhaçada de que se tem notícia em posses de legisladores e prefeitos pelo país. Em conjunto com a bancada de seu partido, conhecido apoiador do PT e das pautas esquerdistas em geral, se recusou a cantar o Hino do Rio Grande do Sul na cerimônia de posse. O motivo? O hino seria "racista", por conta dos seguintes versos: "Mas não basta para ser livre/ser forte aguerrido e bravo/povo que não tem virtude/ acaba por ser escravo".

Sua interpretação: "Não temos obrigação de cantar um verso que diz que nosso povo não tem virtude e por isso foi escravizado". O vereador precisa mesmo é de aulas de interpretação de textos. A escravidão mencionada no trecho não se refere à exploração da população negra por brancos, mas a qualquer tipo de exploração de seres humanos por outros. Na verdade, o hino é contrário à escravidão e endossa as virtudes humanas como forma de libertação. E ainda há um contexto histórico a ser respeitado. A Revolução Farroupilha foi um confronto contra o Brasil Império. Desta luta inclusive participaram os conhecidos "lanceiros negros". Mas agora a esquerda decidiu que o problema é o hino.

O jornalismo militante do centro do país, somado a alguns articulistas locais, se encarregou de defender o ridículo ato de protesto do vereador empossado. Nunca tinha lido tanta bobagem ao mesmo tempo. O jornal carioca O Globo estampou a seguinte manchete: "Entenda porque o Hino do RS é racista". Enquanto isso, a CNN brasileira classificava os protestantes a favor de Donald Trump nos Estados Unidos como "anarquistas". Os mesmos que chamaram os vândalos vinculados ao Black Live Matters de "manifestantes". Quanta imparcialidade.

CONTROLE DA LINGUAGEM

A verdade é que o sonho, não apenas da esquerda brasileira, mas em todo o mundo, é o fim da liberdade de expressão e o domínio absoluto sobre todos os códigos de linguagem, para que qualquer tipo de raciocínio só possa ocorrer dentro de seus próprios parâmetros. Recentemente, até mesmo a reprise do filme musical "Grease, de 1978, gerou pedidos de "cancelamento" por parte de fanáticos da esquerda, porque seria supostamente "sexista", "branco" e "misógino".  

Percebam que estamos falando de um filme ingênuo, sem qualquer pretensão política. Eu já exibi "O Nascimento de uma Nação", dirigido por D. W. Griffitt em 1915, para explicar a estudantes de roteiros de cinema por qual razão o diretor norte-americano é considerado o criador da linguagem cinematográfica. E o filme é absolutamente racista. Serei racista por causa disso? Já analisei a estética de filmes da cineasta alemã Leni Riefensthal, documentarista oficial de Hitler. Serei também um nazista por causa disso?

Deveríamos banir estes filmes também? Quantas outras músicas, hinos ou obras de arte devem ser banidos? Estes são os métodos da nova esquerda fascista.


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